Quem são suas companhias?

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Quantas vezes você já tomou banho com seus problemas e dormiu com seus desafetos?

Cultivar inimizades e mágoas somente prejudica ao agente da ação. Essa premissa está muito além de ser bíblica. Quando uma pessoa sente raiva de alguém, e vive persistindo em nutrir esse sentimento, acaba por alimentá-lo de sua própria energia. Ora, então a pessoa odiada recebe aquilo que de melhor você poderia empregar em sua própria vida: a SUA energia.

Essa força vital é o recurso que movimenta, gera projetos, expectativas, criatividade, sede de realização, e quando se é canalizada negativamente, tudo isso se perde, afinal, o combustível está sendo queimado nos problemas, nas contas que não foram pagas, na discussão com o colega de trabalho, no cachorro do vizinho que sujou sua calçada… Quanto desperdício!

Sem que você perceba esse desgaste diário, a pessoa odiada passa a ser sua companhia mais intima, que frequenta os mesmos ambientes que você – do trabalho à academia, do despertar ao adormecer. Os seus problemas são misturados com o shampoo, que na hora tão pessoal de seu dia, no seu momento de higiene, estarão povoando sua mente, emaranhando-se e transformando-se em monstros muito maiores do que aqueles aos quais você foi realmente apresentado. Você termina o banho e seu corpo está tenso, você se quer se deu conta de que a temperatura da água estava agradável e que o sabonete novo tem um aroma gostoso.

Na hora da refeição, momento de comunhão com os seus, você convida mais alguém, ou vários “alguéns”… Todas aquelas pessoas que lhe causaram stress ao longo do dia, da semana, do mês… Da vida – no trânsito, na fila do mercado, no callcenter da empresa de telefonia, na mesa ao lado da qual você trabalha há anos: Todos juntos em uma só mesa, mas sem compartilhar nada de positivo, são vários fantasmas que lhe fazem levar o garfo à boca sem se dar conta de que se trata do seu prato predileto, feito com carinho pela sua esposa.

Com quantas pessoas sem nome você já compartilhou seu sofá? Assistindo ao filme que ganhou o Oscar, sem perceber beleza alguma no romance mais comentado do ano… Focado em suas histórias de terror que envolvem, muitas vezes, rostos desconhecidos e assombrosos de indivíduos ou situações que jamais se apresentarão de fato.

Antecipando catástrofes, alimentando desavenças ou nutrindo alguém com ódio… Alguma vez você deixou de assistir o final feliz daquela novela, da história de amor da sua filha ou da competição de futebol do seu filho? Você leu esse texto? Ou passou os olhos enquanto criticava mentalmente quem insiste em estar de bem com a vida?

Yara Luiza Moreira Braguinia é psicóloga da UNIICA – Unidade Intermediária de Crise e Apoio à Vida

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