A célebre frase de Benjamim Rush, em 1790, “beber começa como um ato de liberdade, caminha para o hábito e, finalmente, afunda na necessidade”, faz refletir a seriedade e a preocupação com os problemas advindos do uso, abuso e dependência do álcool até os dias de hoje. O álcool é considerado uma droga depressora do sistema nervoso central, afetando o julgamento, o nível de consciência, o autocontrole e a coordenação motora.
O álcool é a principal droga psicoativa utilizada no mundo. O desenvolvimento do alcoolismo depende da interação entre fatores biológicos, psicológico e social, caracterizando uma doença de herança multifatorial.
Habitualmente observamos que o alcoólico busca um bem-estar, o alívio de tensões emocionais ou preocupações na ingestão de bebidas alcoólicas. Momentaneamente, sente o amortecimento da vivência de seus problemas emocionais, mantendo-o alheio das dificuldades que deveria enfrentar na vida cotidiana.
A necessidade de álcool, que atinge uma dimensão quase passional no sujeito dependente, é estimulada por todas as circunstâncias. O paciente bebe porque está triste, ansioso ou cansado, mas também quando se sente feliz. Tudo serve de pretexto para beber, a bebida acompanha todas as atividades, relações sociais, trabalho, mas também as refeições e a vida sexual.
Quando o ato de beber deixa de ter uma função social e passa a ficar disfuncional, dizemos que se instalou a dependência alcoólica. O indivíduo perde a liberdade de decidir se quer ou não beber. A Organização Mundial da Saúde propõe alguns critérios para caracterizar a Síndrome de Dependência Alcoólica:
1) Estreitamento do repertório: o indivíduo passa a beber todos os dias em qualquer horário.
2) Saliência do comportamento de busca do álcool: o indivíduo dá prioridade ao ato de beber ao longo do dia, mesmo que seja em lugar inadequado, como no trabalho, por exemplo.
3) Aumento da tolerância ao álcool: aumento da dose para obter o mesmo efeito.
4) Sintomas repetidos de abstinência: sintomas físicos (tremores, náusea, vômitos, sudorese, cefaléia, câimbras, tontura); afetivos (irritabilidade, ansiedade, fraqueza, inquietação, depressão); senso percepção (pesadelos, ilusões, alucinações visuais, auditivas ou tácteis).
5) Alívio ou a busca para evitar os sintomas de abstinência pelo beber: a pessoa bebe para sentir-se melhor ou aliviar outros sintomas.
6) Sensação subjetiva de necessidade de beber: considera-se como uma tendência psicológica a buscar alívio dos sintomas de abstinência.
7) Reinstalação da síndrome após abstinência: Após período de abstinência, que pode ser de dias ou meses, assim que a pessoa volta a beber, passa, em curto espaço de tempo, a beber no mesmo padrão de dependência antigo.
O alcoolismo é uma doença e como tal deve ser tratada, deve-se buscar um novo estilo de vida. A mudança é árdua, complexa e marcada por muitos “escorregões”. Cabe à família, ao meio social, à equipe de profissionais pertencentes aos locais de tratamento e ao próprio paciente a motivação na ajuda ao dependente alcoólico.
Elke do Pilar Nemer Pinheiro é Psicóloga da clínica psiquiátrica UNIICA