Dizem que a internet está tirando a infância das crianças. Será que é isso mesmo? Bom, não sabemos. Mas os especialistas têm se preocupado com os impactos dos celulares e outros eletrônicos no cérebro das crianças e jovens do país.
Segundo pesquisa de 2019 do Comitê Gestor da Internet no Brasil, 43% dos jovens já foram testemunha de algum episódio de discriminação na rede. As meninas são as maiores vítimas de conteúdos ruins: 31% delas receberam tratamentos ofensivos e 27% ficaram expostas à violência. Os mesmos dados dizem ainda que 25% dos jovens brasileiros não conseguem controlar o tempo que passam em frente às telas.
É verdade que, nos dias atuais, muitos de nós não vivemos sem os smartphones. Se usados na medida certa, pode-se dizer que trazem mais vantagens do que prejuízos. Mas nunca é demais lembrar: tudo que é exagerado pode fazer mal. No caso dos celulares, esse mal pode ser maior ainda nas primeiras duas décadas de vida.
Nos primeiros anos
Você já viu, em um lugar público, um adulto colocar o celular na frente de um bebê e mostrar a ele um vídeo cheio de sons e imagens? Essa cena tem se tornado cada vez mais comum em shoppings, restaurantes e outros espaços. O problema é que esses vídeos ocupam o tempo que a criança poderia gastar com coisas mais ativas, como brinquedos, que ajudam a desenvolver habilidades importantes.
Um estudo feito com 3.155 crianças no Ceará mostra alguns dados sobre o impacto dos aparelhos. Os cientistas acompanharam essas crianças do nascimento aos 5 anos.
Quando recém-nascidos, 41,7% deles ficavam tempo demais assistindo a vídeos e outras coisas. Ao chegar aos 4 e 5 anos, esse nível aumentou para 85,2%. Essa pesquisa concluiu que cada hora na frente da tela diminuiu nas crianças a capacidade de se comunicar, de resolver problemas e de socializar.
O problema continua
Mesmo depois dos 5 anos, garantem os especialistas, é útil limitar e monitorar o acesso ao mundo digital. Uma pesquisa feita com 4.500 crianças de 8 a 11 anos nos EUA e publicada em 2018 mostrou isso. Aquelas que seguiram o limite na frente do celular tiveram melhor desempenho quanto ao raciocínio.
Acontece que algumas partes do nosso cérebro só se desenvolvem totalmente lá pelos 25 ou 30 anos. Prova disso é que os adolescentes tendem a explorar o que é novo, sem pensar no que pode vir depois.
E não é só o que está dentro da tela
Os problemas que as telas trazem não se limitam àquilo que está dentro delas. Além dos estímulos que vêm com as imagens, a luz diminui a produção do hormônio responsável pelo sono. Pessoas mais jovens, vale lembrar, devem dormir no mínimo entre 9 e 10 horas por dia.
Se a luz da tela atrapalha isso, a pessoa pode ter maus comportamentos e problemas no aprendizado. Além disso, ficar tempo demais em frente ao aparelho pode levar à falta de exercícios físicos, e daí pode vir o excesso de peso.
Aliás, algumas meninas procuram na internet formas de emagrecer e de conseguir o corpo ideal. Isso pode levar a transtornos alimentares.
O uso de fones de ouvido com som alto torna mais comuns os problemas auditivos. Também a visão sofre, com a falta dos estímulos trazidos pela presença em locais abertos. Ver um vídeo de crianças brincando no parque da cidade não é o mesmo que ir lá de verdade, não é?
É possível evitar?
Como impedir que a relação com a tecnologia seja um obstáculo na formação da criança ou do adolescente? Primeira coisa: é fundamental conhecer os limites de tempo.
O que recomenda a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) é o seguinte: crianças de até 2 anos não devem ter nenhum acesso às telas. Dos 3 aos 6 anos, o tempo nos eletrônicos deve variar de 30 minutos a 1 hora, sempre observado por um adulto. Já dos 6 aos 10, é possível aumentar um pouco o limite, desde que acompanhado por um responsável.
Isso não é difícil. Basta pensar que a vida é cheia de outras coisas divertidas, como brincar e conversar com amigos cara a cara. Também é bom que os pais e responsáveis evitem deixar as crianças na frente das telas enquanto fazem suas atividades.
Não deixe de procurar saber se o celular está causando vício. Por exemplo, veja se sua criança caiu de rendimento na escola, se troca o dia pela noite ou se falta às refeições. Nesses casos, procure a ajuda de um profissional.
O que fazem as empresas
As grandes empresas de tecnologia sabem de seu papel. Criam regras e iniciativas para proteger as crianças.
Facebook, Instagram e Twitter não permitem que menores de 13 anos criem contas. Há perfis ligados a crianças, mas quem administra são os pais.
O Instagram lançou ainda um recurso chamado “Faça uma pausa”. É um lembrete para a pessoa sair da rede após 10, 20 ou 30 minutos. Já o Google tem aplicativos como o Family Link e o Kids Space. O YouTube lançou em 2015 sua versão apenas com conteúdo infantil, o YouTube Kids.
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Fontes de referência: VivaBem, Drauzio Varella, Ctrl+Play