“O termo ‘transtorno’ é usado por toda classificação, de forma a evitar problemas ainda maiores inerentes ao uso de termos tais como ‘doença’ ou ‘enfermidade’. ‘Transtorno’ não é um termo exato, porém é usado aqui para indicar a existência de um conjunto de sintomas ou comportamentos clinicamente reconhecíveis associado, na maioria dos casos, a sofrimento e interferência com funções pessoais. Desvio ou conflito social sozinho, sem disfunção pessoal, não deve ser incluído em transtorno mental, como aqui definido”.
Complicou? Vamos descomplicar. Primeiro uma informação importante. No Brasil, oficialmente usamos o manual de Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento, publicado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 1992, para descrever e categorizar os transtornos mentais. O trecho acima foi de lá retirado, e resumindo, fica assim: Para evitar problemas e falarmos a mesma língua, vamos chamar tudo que conhecemos na psiquiatria de ‘transtorno’. Não posso falar doença? Até pode, falamos no dia-a-dia, porém, a rigor, para algo ser chamado de doença, precisaríamos entender completamente o mecanismo pela qual ela ocorre ou a
causa. E não sabemos isso? Não!
Seguindo a linha de raciocínio, se não sabemos a causa, nem o mecanismo, como saberei que ela existe? Bom, essa é a principal pergunta. Eis que temos um padrão de determinados sinais e sintomas, que chamamos de Síndromes. Essas síndromes aparecem em certos contextos e com frequência mais ou menos constante no passar do tempo. Por exemplo, quando alguém morre, os familiares ficam tristes, choram, fazem velório, levam flores e se vestem com roupas escuras. Chamamos isso de Luto.
Mas espere, o luto é transtorno mental, é doença? Não! Mas por quê? Voltemos a publicação da OMS; para ser considerado “transtorno”, os problemas emocionais e comportamentais devem gerar sofrimento e interferência com funções pessoais. Resumindo, o próprio paciente ou pessoas próximas devem ter prejuízos decorrentes dos
sinais e sintomas. Por exemplo, os deprimidos ficam isolados em casa, os ansiosos sofrem por antecipação, assim por diante.
Por fim, não queremos equacionar os mitos em torno dos transtornos mentais e poderemos trazer mais a respeito nos próximos textos. Vale lembrar, qual a consequência final do luto, que em geral não é (mas pode vir a ser) uma disfunção? Costuma ser naturalmente chamada de saudade.
Dr. Thiago Fuentes Mestre é Psiquiatra da clínica UNIICA